Amanhã, 1 de abril, às 14h, o STF "decidirá" sobre a obrigatoriedade do diploma para os profissionais de Jornalismo.
Desde 2002, quando entrei no Curso de Comunicação com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, eu presencio a discussão sobre a obrigatoriedade do diploma para profissionais da área.
Essa polêmica não é recente. Desde meados do século passado, com a criação do curso superior de Jornalismo, essa dúvida paira no ar: é preciso estudar para ser jornalista?
A resposta para aqueles que são jornalistas por “prática” é não. Para quem passa quatro anos numa universidade, é sim.
Um dos assuntos da turma do “não” seria o argumento de que a obrigatoriedade do diploma vai contra a lei da liberdade de expressão, da Constituição de 88. O que do meu ponto de vista é uma confusão feita entre o exercício da profissão e a livre expressão dos pensamentos. Inclusive, no que diz respeito à liberdade de expressão hoje a sociedade tem a internet como aliada, quem quiser pode falar e escrever o que quiser na rede sem distinção de classe social e etc.
Vejo, nesse contexto, que ao invés de desmoralizar a profissão e dar um passo pra trás nas lutas pela regulamentação da mesma, outras discussões deveriam tomar o espaço nas vidas de estudantes, jornalistas e profissionais da justiça.
Atualmente, o jornalismo sofre, de forma gradativa e constante, uma reforma evidente a cada invenção tecnológica que acrescenta algum elemento nos meios de Comunicação, transformando cada pessoa uma produtora de notícia. A qualidade das produções jornalísticas está em evidência, uma vez que é visível um engessamento, uma padronização de estilos e conteúdos mantida pela indústria da comunicação formada por grandes empresas. Os salários dos jornalistas são baixos e o reconhecimento nem sempre vem. Ainda assim, com essas e mais dezenas de outras pendências que permeiam a prática jornalística, os cursos de jornalismo e profissionais responsáveis e comprometidos lutam a cada dia pela regulamentação e fomentação da profissão. É disso que o Jornalismo precisa: mesmo que a passos curtos e lentos, manter a discussão acadêmica sobre o assunto. Não preciso entrar no mérito de em que toda área existem os bons e “comprados” profissionais e que não é tirando a obrigatoriedade do diploma que esse fato no Jornalismo será amenizado.
Afinal, para que existem os cursos de Jornalismo? A premissa da profissão é informar e esclarecer os fatos. Fazer “uma ponte” entre segmentos, categorias, comunidades, sociedades. Desenvolver uma relação entre as pessoas e contribuir para o crescimento das mesmas. Muito basicamente é isso. Mas para cada ação destas citadas, existe a necessidade de fazer a interpretação das realidades em questão. Por isso, no curso de Jornalismo existem as matérias de Antropologia, Sociologia, Cultura, Legislação, Meio Ambiente, Publicidade, Ética e etc. e é pelo mesmo motivo que todo estudante de jornalismo estuda TV, impresso, rádio, mídias alternativas, para enxergar a Comunicação Social em sua plenitude.
Além disso, a Comunicação, encabeçada pelo Jornalismo, é reconhecida como uma Ciência Social. Como não incentivar a continuidade das Pesquisas Acadêmicas que enriquece o conhecimento e contribui para o engrandecimento da área?
O interesse pelos cursos de Jornalismo é ameaçado. Quem vai querer fazer um curso para disputar de forma legítima o mercado de trabalho com alguém que não tem a mesma qualificação acadêmica? E como ficam os milhares de jornalistas brasileiros formados? E os 380 cursos de Jornalismo espalhados pelo país?
Se for aprovada a não obrigatoriedade do diploma é bom cada um de nós jornalistas procurar fazer algum outro curso superior no qual o diploma represente algo mais do que um pedaço de papel que ostentará a utopia de uma profissão legítima morta prematuramente.
É uma desmoralização ao meu maior patrimônio: a minha profissão.