Entre as leis da natureza a mais cruel não é morte, e sim a velhice. E isso passa longe de um ódio aos mais vividos. Não, isso é mesmo uma realidade incompreensível da biologia. Não no sentido biológico mesmo, mas porque tem que ser assim?
Podíamos simplesmente chegar aos 30 e com corpo e sanidade dos 30 fazer 70, 80, 90 anos.
As marcas do tempo são humilhantes e não consigo enxergar a beleza na Terceira Idade. A beleza da Terceira Idade está apenas na parte subjetiva da experiência de toda uma vida, o que necessariamente não precisaria estar estampado na pele. Essa história de beleza da velhice....que trem estranho. Deve ser por isso que os idosos são tão apegados aos filhos e netos: querem viver novamente aquilo que lhes foi tirado pela falta de forças nas pernas.
Chegando numa clínica de cardiologia encontrei um conjunto de peças semelhantes: bolos de carne semi morta, carecas e cabelos brancos, orelhas enormes, pálpebras caídas, sapatilhas “Moleca”, veias saltando, bochechas fundas e burburinhos cansados, esperando um câncer, um derrame, um enfarto, um aneurisma.
“Senha 13!” (10 segundos) “Senha 13” (15 segundos), “SENHA 13!!!”.... Minha vontade era dizer pra recepcionista que a “Senha 13” iria demorar meia hora para percorrer um metro e meio. Quando a “Senha 13” chega ao balcão, com seu vestidinho de tecido de lençol, grampos no cabelo, leva mais alguns minutos para achar o cartão do plano de saúde. É tudo que merecemos, apodrecer? E eu na minha ansiedade juvenil queria falar “anda sua velha, ainda tem um dia todo pela frente”.
Feio, né? Afinal, um dia chegarei lá, espero. Não espero, mas quero. O tempo da juventude é muito curto para fazer tudo que devemos fazer nesse mundo. Mas custava manter minha energia de 25 aos 70?
Pelo menos os idosos têm conquistado regalias, preferências, espaços exclusivos, alimentos, revistas, spas. Devia ser muito chato ser velho vivendo num mundo de jovens. Tem coisa mais humilhante do que disputar com um jovem?
É isso mesmo, é verdade, tenho pavor de envelhecer. Das dificuldades em ouvir, andar, falar, de perder os reflexos, a agilidade, de me olhar no espelho e ver que meu rosto não passa de uma uva-passa prestes a ser devorada pelo tempo.
Sou mais meus vinte e poucos anos, enquanto durar.
OPINIÃO: ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD
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