segunda-feira, abril 30, 2007

Em defesa


Ele tá lá, pequeno, insignificante, quase.

Só usam quando o grande está ocupado, quando o grande está tomado de posse.

Pobre pequeno. Sabe que é segunda opção sempre.

Tão vítima do homem megalomaníaco. Homem espaçoso.

O grande não foi feito para pessoas que andam com os dois pés.

Mas mesmo assim elas se apoderam daquela área.

E gozam despejando seus descartes podres e fétidos num ambiente tido como mais digno.

Por ser simplesmente maior.

É igual ao outro. Igual.

Só a imundice é menor, como seu espaço.

Mas esse humano... Não sei, não.

Nem percebe o eternamente vazio que causa naquele pequeno.

"Filha da puta do grande"

Pensa o pequeno.

"Por que não somos iguais?

Se indaga o pequeno.

Será que ele sabe que o grande foi feito para minorias?

Será que isso acalentaria sua dor?

A dor.

A dor causada pelo homem megalomaníaco. Homem espaçoso.

sexta-feira, abril 27, 2007

"Respeito é pra quem tem"

Dois sócios de uma empresa construtora, resolve mandar matar o terceiro sócio majoritário, por cobiça e um certo conflito de interesses.O assassinato é a sangue frio e quem o cumpre é um já especialista no assunto que não só “despacha” o cara, como aproveita e manda também a mulher dele dessa pra melhor. Melhor sim, porque “O Invasor”, sob a direção de Beto Brant, pretende mostrar um mundo de prazeres sujos, de desigualdades, da ganância com precedentes na nossa própria divisão de classes, divisão essa que é mostrada como uma “linha imaginária” nas grandes capitais, nesse caso, São Paulo é o cenário. A periferia e o centro não fazem parte de realidades distintas, os dois universos compõem um labirinto de corrupção onde a esperteza é a lei de sobrevivência, onde ser sagaz e inumano a todo custo, valha o que valer, é o melhor caminho para ser alguém na vida.
O Invasor é um filme poético, de uma poesia não delicada, como outros filmes que pretendem mostrar a mesma realidade, o filme tem uma poesia agressiva, do cólera, racional, de ruas inundadas pelos piores sentimentos, do caos urbano.
Os dois sócios, interpretados por Alexandre Borges e Marco Ricca, recorrem ao plano “favela” para realizar o assassinato. O assassino, incorporado por Paulo Miklos, também quer algo em troca, que não só o dinheiro do serviço prestado. A partir dessa problemática relação que se desenrola gradativamente durante a história, o Invasor, expõe essa esfera podre de um país tão equivocado, essa esfera mesmo que vemos todos os dias nas manchetes dos jornais.



"Homem primata, capitalismo selvagem"

A participação de Sabotage dá o ritmo, literalmente, no filme. As músicas do rapper, que morreu também assassinado a sangue frio na “vida real”, entram no filme em forma de videoclipes que dialogam com as situações e ajudam a dar o “peso” necessário que claramente é pretendido pelo diretor. Em alguns momentos, achei que o recurso dessa linguagem foi deveras cansativo, abusado demais e prejudicou um pouco o roteiro, mas não compromete a qualidade do filme. O sucesso de “O Invasor” é resultado também de escolhas que deram o “ar” perfeito para a narrativa: fotografia obscura, com cores contrastadas, planos alternativos, linguagem adaptada e um elenco que se encaixou muito bem aos personagens. Marco Ricca e Alexandre Borges fazem bonito no papel dos sócios, personagens de personalidades diferentes e que se completam nesse mundinho impuro. Tá certo que um deles ainda carrega uma certa culpa pela admissão da tal barbárie tão trivial à nossa sociedade, mas tudo pode mudar com o decorrer dos fatos e descobertas. No entanto, quem chama a atenção é o cantor Paulo Miklos, que como eu já havia mencionado, incorpora, como todas as letras, o assassino. Ele É O assassino e convence tanto nesse papel que tomei até antipatia pelo cara. O legal de “O Invasor” é que ele tem tudo isso sem exageros, sem caricaturas, sem diálogos desnecessários, sem final feliz, e apesar do fim vir sem força e não ser surpreendente (afinal de contas, essa é a nossa realidade e admitindo ou não sabemos como acontece), também não decepciona, não é anticlímax e é muito coerente.

Paulo Miklos: "I am a jungle man"



O Invasor não pretende promover discussões, ele ta aí para constatar, afirmar que fazemos parte de um mesmo barco, que está para naufragar a qualquer momento e mesmo assim nos aglomeramos, empurramos uns aos outros para entrar nele. É o nosso país, que é mostrado cru e sem nenhuma esperança de mudança. Vale a pena ver “O Invasor”. É intrigante, desperta nossos piores sentimentos e é, acima de tudo, brasileiro.


"O Invasor" Brasil, 2001. 97 mins. Direção: Beto Brant. Com: Paulo Miklos, Marco Ricca, Alexandre Borges, Mariana Ximenes, Malu Mader.

quinta-feira, abril 19, 2007

Esse é o meu castigo

O fenômeno da música POP.

Meu mais novo ídolo no quesito "sou cara-de-pau e ridículo, sou feliz assim".


E todo mundo cantando:
"Agora meu adeus (smack), tchau, ah, ah
Não vai ficar comigo, esse é seu castigo
Quis me enganar, mas se iludiu"

É... porque levar a vida muito a sério é deprimente...

http://www.youtube.com/watch?v=RvxZUb7QDNM&mode=related&search=

quarta-feira, abril 18, 2007

our silver ring

Não, não fiquei noiva.
Um anel de compromisso é um anel de compromisso. É de prata ou de qualquer coisa que queira.
Uma anel de noivado, segundo as regras, é de ouro, ou dourado, dependendo do seu orçamento.
O que temos nos dedos "seu vizinho" da mão direita é um anel de compromisso de prata, para celebrar nossa união de dois anos, assim como espalhar para os quatro ventos do mundo o quanto é legal curtir a, o que considero, ser a melhor fase do nosso namoro.
O que não tira o importante valor simbólico do que penso ser uma manifestação de carinho, para alguns careta e desnecessária e para outros romântica e só pelo significado desta palavra basta.

Sendo assim, marcamos nosso noivado para 2030 e casaremos em 2037, podendo ser adiantado para 2034, talvez.




Acho legal como as notícias se espalham e aumentam. Como é uma coisa boa, to achando engraçado.

segunda-feira, abril 16, 2007

Manias, manias, loucuras à parte.

Segundo meu amigo inseparável, o Priberam, esquizofrenia (do Gr. skhízein, fender + phrén, phrenós, espírito) significa género de psicose, cissão ou dissociação psíquica. Alguns estudiosos afirmam que a "esquizofrenia é uma doença mental que afeta a capacidade da pessoa distinguir se as experiências vividas são ou não reais. Afeta ainda a capacidade de pensar logicamente, sentir emoções e sentimentos, e comportar-se em situações sociais".
Minha mãe disse que já conheceu alguns esquizofrênicos. Eu não.

Mas estava aqui agora divagando, sentada em frente ao meu computador (da agência, no caso), pensando que tenho manias tão estranhas que eu gostaria de dar nomes científicos. A mais atual é passar pelas pessoas conhecidas na rua, quase “me bater” nelas e nas ocasiões em que não me enxergam, não falar com elas, nem dar “oi”, nada, passar despercebido. Isso me diverte muito! Penso como estamos envolvidos com a conta de água atrasada, o cardápio do almoço, o pai da amiga que morreu no acidente e o salário que não rende que não nos atentemos para rua, para as pessoas que passam por nós.
Virou uma mania tão grande, que no caminho do trabalho fico procurando “conhecidos” cegos. E me acabo na risada quando acontece de trombar em fulana e fulana não saber que a pessoa que empatou sua passagem naquela hora estudou com ela durante quatro anos na faculdade.

Até comentei aqui no blog, uns tempos atrás que eu tava com mania de limpeza. Mas só aos sábados. Dava sexta-feira e eu ficava louca: horas e horas programando como seria minha rotina da faxina. SE eu iria começar pelo meu quarto, pela cozinha, quantas roupas teria que lavar, dar uma geral nas paredes, etc.

Só manias, acho. Mas numa busca na internet achei o nome de algumas, umas sociáveis outras capazes de obrigar o total isolamento do cidadão.


Abulomania - Impulso mórbido para lavar-se e banhar-se
(Será que algum europeu tem essa?)

acribomania: Mania de exatidão. (Deve ser coisa de matemáticos)

agromania: Tendência mórbida à solidão, ou a vagar pelos campos.
(pelos campos???)

bruxomania: Sintoma de neurose que se caracteriza pelo excessivo ranger de dentes. (essa ia me irritar)

cacodemomania:
Distúrbio mental caracterizado pela ilusão de estar possuído por maus espíritos.
(sai pra lá, Exu!)

clastomania: Tendência patológica para destruir todos os objetos
(personagens de novela da Globo tem tendências à essa mania)

coromania: Desejo patológico de dançar. (esse venceria numa boa aquelas provas do BBB)

doromania: Tendência patológica a dar presentes. (queria que algum amigo meu tivesse essa)

erotografomania: Desejo patológico de escrever cartas de amor. (já tive um namorado assim)

filopatridomania: Desejo incontrolável de regressar à terra natal. (essa meu pai gostaria que eu tivesse)

metomania: Desejo irresistível de tomar bebidas alcoólicas; metilepsia, metiomania. (isso ai se cura no AA)

opsonomania: Apetite insaciável em relação a certas iguarias. (chocolate, chocolate!!!)

tristimania: Tristeza habitual sem razão aparente. (nas mulheres ocorre, principalmente na fase TPM de ser)

segunda-feira, abril 09, 2007

Ó pai ó – Muito carnaval pra muito pouco.

Entrei na sala de cinema com uma grande expectativa positiva com relação a “Ó Paí, Ó”. Esperava muito por esse filme que foi considerado pelos próprios realizadores como “o filme mais baiano que já foi feito”. O resultado foi que, no final da projeção, eu estava com aquela sensação de que esperei muito por muito pouco. “Ó Paí, Ó” decepciona em quase todos os sentidos.

“Quase” porque quem vai ao cinema em busca de boas piadas e entretenimento gratuito, tem diversão garantida.

No entanto, o filme fica devendo uma análise mais proveitosa da realidade que propõe mostrar, ficando preso apenas a uma narrativa inundada pelos estereótipos e histórias vazias que acaba por deixar o filme um tanto superficial.

O filme começa bem, Roque o pintor artista interpretado por Lázaro Ramos, é surpreendido pela personagem de Emanuelle Araújo que pede para ser pintada para a Timbalada. Logo depois, em outro momento, tem o único musical que se encaixou na trama: a música “Vem meu amor” do Olodum cantada pelo pintor vestido de mulher, voltando do carnaval já de manhã, em um passeio nas ruas do Pelourinho funciona como uma apresentação do ambiente, dando noção de tempo e lugar.



Rosa (Emanuelle Araújo) e Roque (Lázaro Ramos) - “Me pinte pra Timbalada!”

Por essas duas cenas iniciais, o que se espera é o desenrolar de uma história com um exame antropológico, dado que o cenário é encravado no berço de uma cultura riquíssima. Mas o que se sucede é um enredo hipostasiado, como diria uma amiga, “um filme para gringo ver” e vender o carnaval de Salvador. Se a intenção era exibir o lado “humano” do carnaval e usar à clef os moradores do Pelourinho para mostrar que por trás da maior festa do país existe um povo trabalhador cheio de singularidades, que dá o sangue para ter uma vida melhor e ainda consegue se divertir muito, o filme falha e não funciona nem como identificação. Isso porque as representações são quixotescas. O baiano é despojado, alegre e múltiplo, mas é apresentado de forma burlesca, exagerada, irreal.



Teatro X Cinema

Para tal excesso existe uma explicação: os personagens caricatos foram criados para o teatro (para a peça inspiração do filme), seguimento que permite esse tipo de exagero, e parece que não sofreram nenhuma adaptação para convencer o público da “tela grande”. Essa falha não é à toa, grande parte dos atores do filme é do Bando de Teatro Olodum e essa transposição para uma adequada interpretação não foi feita. Nada de novo, isso acontece com praticamente todos os filmes produzidos pela Globo Filmes, em que os atores saem direto da televisão e levam todos os vícios da atuação em novelas que para o cinema pode ser visto como uma insuficiência na interpretação.


Sendo assim, “Ó Paí, Ó” apresenta uma evangélica fervorosa, Dona Joana, proprietária de um cortiço no Pelourinho, locação principal do filme. Lá, entre outros, mora um travesti, um trambiqueiro boa pinta, uma mulher de coração grande que aperta seus cinco filhos num quarto minúsculo e um jovem pintor artista que dá o duro todos os dias para conquistar um “lugar ao sol”. Na paisagem histórica de Salvador ainda habitam Neuzão, homossexual e dona de um bar, um policial corrupto, uma mulher que supostamente casou com um gringo e voltou para Bahia, uma vidente e uma baiana de acarajé. Essa coleção de “tipos” torna difícil o desenrolar de uma história e desumaniza os personagens que estão lá muito mais pelos seus gêneros do que para compor algo de interessante.


“Ó pai ó no jornal, como o baiano é uma figurinha de cinema”


Considerado o ponto alto do filme, a interpretação de Lázaro Ramos funciona bem, soa verdadeira, sem muitas firulas. Já Wagner Moura não convence no estilo “lato, mas não mordo”, com expressões faciais forçadas, Dira Paes também não deposita todo seu talento na interpretação e Stênio Garcia passa despercebido.


É Boca (Wagner Moura), essa sua cara de mau não convence nem Roque...


Outro fator que demonstra insuficiência são os planos fechados de câmera que escondem o ambiente e limita a visão do cinéfilo, característica própria dos filmes guiados por diretores de novela e também de obras da Globo Filmes.


Conteúdo

“Ó Paí, Ó” é um filme de esquetes. Não desenvolve sequer nenhuma história consistente e por isso é embalado por musicais que nada acrescentam à trama. Decorrente desse mesmo fato, o único fator que pode atrair elogios ao filme é o mesmo que arranca risadas do público: os diálogos bem humorados compostos pelo mais fiel dialeto baianês, com os hábitos e as “tiradas” típicas dos habitantes da capital baiana, que “carregam” muito mais no sotaque do que qualquer outro povo do Estado.


O roteiro dançou. E Talvez por falta de “música” mesmo.


Sem um progresso gradativo da narrativa, o espectador fica esperando o ápice do filme que segue na mesma velocidade e superficialidade, e o que era para ser um final impactante é debilitado por uma suposta crítica social, um tanto quanto desconjuntada. Essa crítica, sem sucesso, diga-se de passagem, pretende expor que até mesmo, ou em especial, um cartão-postal como o Pelourinho sofre com os indicadores de violência, prostituição e racismo. No final, como a maioria dos elementos do filme, a discussão é estereotipada e se torna impotente.


Como disse, como entretenimento, “Ó Paí, Ó” é uma boa pedida. Eu espero que essas falhas de conteúdo sejam superadas na versão para TV já garantida pela Globo. É uma expectativa duvidosa, afinal de contas, essa disseminação de histórias isoladas e a ausência de uma reflexão mais coletiva são próprias do estilo minisséries de televisão.



Revisão: Hélio Flores.