quarta-feira, março 28, 2007

ó pai ó II

O amigo de um amigo de um amigo
aceitou doar sangue para a mãe de uma amiga do amigo do amigo do amigo

É por uma dessas que eu ainda acredito na bondade do ser humano.

ó pai ó!

Parece exagero, pode até ser mesmo.
Mas sinto, pela primeira vez, os sinais do tempo
Não era pra sentir no auge dos meus vinte e poucos anos?
Nem sei, mas senti
Olhei no espelho e achei que a pele to meu rosto ta "gasta"
A pele dos meus seios estão ficando flácidas
Assim como meus braços estão criando um tipo de "pelanca"
Meu quadril é de mulher
Luto para entrar numa calça 40
Quer dizer, nem tento mais
Minha barriga tem uma saliência inconveniente
A conhecida "barriguinha de chope"
Meu bumbum... esse ainda tá legal, salvo algumas celulites que dão uma alegoria desnecessária
Mas o pior de sentir os sinais do tempo no corpo, é sentir no quesito "dona de casa"
Quero agora tudo organizado e limpo. Sempre.
Pode chover canivete, sábado de manhã é meu momento sagrado de graxerar
E o tempo nas lojas que eram exclusivos para apreciar roupas, cds, dvds e livros, hoje é compartilhado nas seções de edredons, copos bonitos, toalhas de mesa, panos de prato, baldes coloridos

Penso feliz e sem preocupação:
"É o tempo Michele
Te deixando madura"

Vou me cuidar mais.

terça-feira, março 27, 2007

A lida diária

Abre um olho
Fecha um olho
Ainda estou aqui
Que bom
Abre um olho
fecha um olho
Mais 10 minutos
Tudo bem se chegar 10 minutos depois
Ontem sai 10 minutos depois!
Fecha o olho






Abra um olho
Odeio esse despertador
Fica aberto, olho!
Vamos! Seja mais forte!
Você consegue!
Nããão, fechou de novo!
Aíí que delícia
que cama gostosa
Mais cinco minutos
Só mais ci...






Toma um susto
Meu Deus deve ser meio-dia
Abra um olho
cadê o relógio?
Ufa... 15 pras 8 ainda...


15 pras 8!!!
Abra os dois olhos
levanta
Vaaaaiiii
Alguém chama um guindaste!
Vaaaiiiiii
Ainda tem o banho, a maquiagem, escolher roupa, tomar café
Consegui!
Sentei
Olha a cama, que confortável!
Que saudade
Meu corpo ta caindo de novo, de novo, de novo
Aiii que cama gostosa...
Mais cinco minutos
Se eu não tomar banho durmo mais cinco minutos





Abra os dois olhos
Toma um susto
Pula da cama
8 horas???!!!!!
Já era pra tá lá!
Sem banho, sem café, sem maquiagem, qualquer roupa.

quinta-feira, março 22, 2007

Pau Brasil 2000

Ontem, peguei uma entrevista pela metade na TVE Bahia (Cultura) com um cara que tocava um violino e cantava. Parecia ser um tipo de referência de algum movimento musical parecido com literatura de cordel. Se não for isso, o responsável pela matéria/entrevista pretendeudar ênfase à essa idéia do cara ser algum destaque por ter estimulado o resgate de algum tipo de manifestação cultural. Trocando por miúdos, não tenho idéia de quem é aquele cara, nem o nome dele eu consegui "pegar". O que focou minha atenção, primeiramente, foi aquele "ar" de bêbado que ele tinha (ou tem). Depois, achei que ele era a reprodução fiel de Glauber Rocha, num mix com Waly Salomão e Caetano Veloso.
No entanto, o texto não é para falar da cara do indivíduo, e sim das palavras que ele proferiu com tanto gosto e pungência: "O Brasil será o centro do mundo. Todos os países imitarão o Brasil. Essa já é uma previsão de (e aí ele falou um tanto de profeta, hindu e de várias outras culturas). Porque o Brasil tem o maior continente, contêm minerais e um povo excepcional".
E nesse naipe, ele continuou com um chauvinismo exacerbante, praticamente um militante Pau Brasil.O maior continente? Já foi comprovado que tamanho não é documento quando se trata de desenvolvimento econômico e social. Minerais? Acho que esse cara perdeu o embarque da nau... Um povo excepcional. Concordo. Mas, diante das circunstâncias, não sei é excepcional a ponto de transformar o Brasil no país do futuro.
Por coincidência, naquele mesmo momento, lia sobre o livro de Chico Buarque, O Estorvo, e da adaptação de Ruy Guerra para o cinema. Não li, nem vi, respectivamente. Mas, através da crítica de Orichio (Luiz Zanin, Cinema de Novo), as duas obras surgiram em um momento de deslocamento do “eu brasileiro” dentro do seu próprio espaço, ou o que teria de ser seu próprio espaço. Essa sensação de “não pertencer a lugar algum”, sentimento que toma as rédeas da história do personagem principal, é conseqüência do desconforto moral causado pela era Collor. Essa desilusão, fruto da angustia de estar perdido na própria terra, em minha opinião, perpetua nos dias de hoje. O Brasil é um país desacreditado e não vejo um motivo para manter as esperanças. Mantemos para fazer do país um lugar habitável e prazeroso para se viver, contudo é fato que a decepção ainda é contemporânea. Menos para o meu amigo meio- irmão de Oswald de Andrade, claro. Sorte dele.

Ainda sem título

"De que me vale toda essa imensidão
Se o que me resta são migalhas.

De que adianta um voto consciente
Se um sistema de compras é articulado

Aonde vai dar esse trilho que a sociedade percorre?
Não sei mais me situar...
Será que acredito no que vejo, ouço?

Pelo visto, não vai ser no mundo platônico
Provavelmente, vai parar em algum palco
Cheio de vedetes, holofotes e fantasias...
Fantasiar...
É mais fácil sonhar em ter uma vaca,
Quando se tem que imaginar um copo de leite...
Ou então, imaginar-se um personagem frágil de filmes de faroestes
Quando passarem balas perdidas pela sua janela

Neste mundo de faz de conta,
Nunca foi tão fácil ser artista!!!"

Da minha amiga, Ane Madureira.

quarta-feira, março 21, 2007

Do alto onde subimos

Hoje acordei com missão de não me deprimir em nenhum minuto do dia.
Mandei o baixo-astral pro quinto dos infernos e vou aproveitar os dias de sol de verão que esquentam a cidade para esquentar também meus ânimos.
Nada melhor do que ouvir uma música para a inspiração surgir.
E as músicas sempre acertam, todo tempo atingem a seta no alvo.
A primeira a tocar no DVD, escolhida aleatoriamente, foi Tudo Novo de Novo, do Paulinho Moska.

"Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim

Vamos acordar
Hoje tem um sol diferente no céu
Gargalhando no seu carrossel
Gritando nada é tão triste assim


É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos


Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou..."

terça-feira, março 20, 2007

A barreira que impede o fazer


Essa vontade de fazer tudo ao mesmo tempo decorrente de um tédio incessante, uma insastifação incurável e compromissos de longa vida, só me faz acumular promessas e projetos que nunca findam.
Se fosse só pôr fim nas promessas por pôr fim, não me incomodaria tanto.
O fato é que a cada "vou fazer" que se vai sem se concretizar ou que se adia por tempo impreciso é mais um motivo para eu me sentir impotente com relação a não sei o que ou a tudo.
Todo dia eu lembro que tenho que correr atrás de tirar o registro de jornalista, todo mês quero entrar na academia, todo dia tenho que comer menos, todo mês vou entrar na aula de dança, no balé, todo domingo vou tirar as teias do meu patins, todo final de semana vou ver um amigo que nunca mais conversei, todo mês vou voltar pra terminar o inglês e depois fazer aulas de francês, italiano, espanhol, todo dia vou acordar mais cedo e caminhar, todo mês vou comprar telas e tintas, todo mês vou ajudar uma instituição carente, todo mês vou procurar um médico e curar a TPM, todo dia vou futucar o Adobe Premiere.... alguns exemplos de uma lista que preencheria as folhas de um mês da minha agenda.
Coisas que não começo a fazer nunca, mas que molestam minha consciência todo santo minuto.
Não deixa de ser uma contradição, ter tanto ânimo e pouca motivação (nem deixa de ser também uma rima).
"Uma coisa de cada vez, ou não vai fazer nada nunca", um amigo já repetiu isso pra mim mil vezes, anos atrás, e hoje repito muito pra outra pessoa.
Mas é tão fácil falar....

segunda-feira, março 19, 2007

Partes de mim

Se eu fosse uma hora do dia: 18:00
Se eu fosse um planeta ou astro: Jupiter
Se eu fosse uma direção: Leste
Se eu fosse um móvel: Mesa
Se eu fosse um liquido: Água
Se eu fosse um pecado: Gula
Se eu fosse uma pedra: Amestisa
Se eu fosse um fruto: Pêssego
Se eu fosse uma flor: Girassol
Se eu fosse um clima: Frio
Se eu fosse um instrumento musical: Bateria
Se eu fosse um elemento: Ar
Se eu fosse uma cor: Verde
Se eu fosse um bicho: Elefante
Se eu fosse um som: Chuva
Se eu fosse uma música: Vento Ventania
Se eu fosse um estilo musical: Rock
Se eu fosse um sentimento: Ser humano
Se eu fosse um livro: O Deus das Pequenas Coisas
Se eu fosse uma comida: Pão com canela e açucar
Se eu fosse um lugar: Ouro Preto
Se eu fosse um gosto: Canela
Se eu fosse um cheiro: terra molhada
Se eu fosse uma palavra: Imortal
Se eu fosse um verbo: Viver
Se eu fosse um objeto: Abajur
Se eu fosse peça de roupa: Blusa com a gola grandona aparecendo o ombro
Se eu fosse 1 parte do corpo seria: Ouvido
Se eu fosse 1 expressão facial: Sorriso
Se eu fosse 1 personagem de desenho animado: Princesa Sarah
Se eu fosse 1 filme seria: Cantando na Chuva
Se eu fosse 1 forma: Círculo
Se eu fosse 1 número: 14
Se eu fosse 1 estação: Outono
Se eu fosse uma frase: “All we need is love”


Roubado de: http://minhasinsanidades.blogger.com.br/

Ladrão cochila em assalto e é preso pela polícia

"O desempregado Carlos Henrique dos Santos, mais conhecido como Riquinho, de 21 anos, dormiu, literalmente, no ponto. Ele foi preso por policiais do município de Laranjeiras, a 23 km de Aracaju (SE), depois de pegar no sono em pleno assalto. A prisão aconteceu ontem à tarde.
Segundo informações do Cabo Lima, da Polícia Militar, Riquinho estava embriagado e quando retornava pra sua residência tentou furtar o aparelho de som e o módulo de um veículo que estava guardado na garagem de uma casa localizada no centro da cidade.
Mesmo sob o efeito de álcool, o ladrão teve facilidade para entrar na residência e no veículo da vítima. Mas um problema na porta do carro acabou dificultando a ação de Riquinho, que não conseguiu sair do veículo. Cansado de tentar destravar a porta, o bandido adormeceu com o som do carro no colo.
¿Quando o dono viu o bandido sentado no banco do motorista, ficou com medo que ele estivesse armado e chamou a polícia¿, conta o cabo, que foi o responsável pela prisão de Riquinho. No local, a equipe de policiais só teve o trabalho de acordar o responsável pela tentativa frustrada de furto, que dormia tranqüilamente no momento em que os policiais chegaram.
Ainda embriagado e sem saber o que estava acontecendo, Riquinho,que não chegou a ser algemado, foi encaminhado para a delegacia da cidade. Ele prestou depoimento ao delegado Hugo Leandro e continua preso à disposição da Justiça.
Segundo o cabo Lima, o ladrão deixou há poucos meses o Centro de Apoio a Menores Infratores, o Cenam, uma espécie de Febem em Sergipe. "Ele fugiu uma vez e nós o recapturamos. Agora ele saiu porque cumpriu a pena de três anos", afirma o policial. De acordo com ele, Riquinho contou também que havia fumado maconha antes de cometer a ação.".

Cícero MendesDireto de Aracaju - mais uma do site do Terra Popular.

sexta-feira, março 16, 2007

Sky High Tower*

As aventuras de se trabalhar com publicidade são ilimitadas.
Todo dia uma sensação diferente.
Esses dias, recebi uma ligação altas horas da noite com a petição de dar nomes à quatro edifícios que serão construídos na cidade. Em 15 minutos. Tinha que ter a ver com a cultura da cidade, ou política e economia. Ou não, seria em inglês, algo com "sky ou sei lá" segundo sugestões, para ficar mais "refinado". Nome de tribo já está manjado demais, pensei.
O que parecia fácil, era na verdade muito penoso, embora divertido ao mesmo tempo.
Depois de pensar em todos os quartetos possíveis, uns nomes sensatos e outros por diversão, fui recorrer ao pronto-socorro da criatividade: o google.
Nos primeiros resultados da pesquisa, achei um site com um artigo que discorria sobre as tendências de dar nomes ao prédios. Um fato que talvez nunca me atentaria, essa arte de intitular edifícios ser direcionada pelo "clima" cultural, político e econômico do país.
Depois pareceu óbvio, uma vez que para todas as coisas é desse mesmo jeito, e é isso que caracteriza uma época. Como a arquitetura. Facilmente identificamos casas e prédios dos anos 60, 70, 80... Mas nunca iria notar sozinha, por exemplo, que nos anos 70, os nomes dos prédios, em sua maioria, eram nomes indígenas, seguindo a inclinação da auto-valorização e afirmação da cultura brasileira, especialmente na música, com a Tropicália.

Enfim, quem se interessar em ter um acréscimo no que se pode chamar de "cultura inútil" para alguns, o link é:
www.vitruvius.com.br/arquitextos/atq000/esp286.asp

* título vencedor das resenhas. :-)

segunda-feira, março 12, 2007

Pacgirl


Eu sei que um exame de sangue ou de fezes pode resolver tudo.

Vou descobrir que eu tenho uma solitária de vinte e cinco metros e quarenta e três centímetros na barriga. Pronto, vou cuidar para que ela abandone o habitat reconfortante do meu abdômen e acaba toda essa fome expressiva que me consome. Mas acho que não é isso. Não queria que fosse também.

Mas gostaria de saber, com todas as forças do mundo, porque eu só paro de comer quando acaba o que eu estava comendo ou quando começo a passar mal.

Guludice. Olho-grande. Esfomiamento. Talvez eu tenha sofrido muito com a precariedade alimentar da tribo africana em que nasci na vida passada. Lá nesse passado, uma estiagem prejudicou as plantações de trigo que minha família cultivava e os bezerros que davam leite (?) e carne morreram todos. Desesperado, meu pai, Dudumoró, ofereceu minha vida ao Deus da Fartura e das Monções em troca de uma vida menos miserável. Por isso, nessa vida eu nasci assim, querendo comer toda hora. E sem querer desperdiçar nada e nem deixar pra amanhã.
Vou deixar claro que minha dieta até que não é muito ruim. Não uso açúcar nem óleo. Mas como doces e manteiga adoidado. Mas tomo muito chá e adoro verduras. Não acho que como muito. Acho só que quero comer toda hora. Tenho certeza. No entanto, divido, numa boa, o pão de cada dia. Não sou egoísta na hora de compartilhar as benções.
Psicólogos, psiquiatras, benzedeiras ou a crendice popular em geral, podem dizer que isso tudo é ansiedade. As vezes acho mesmo. Principalmente, quando estou sem muito coisa pra fazer, aí só quero comer.
Ou é mau olhado.
Ou é gula.
O quinto pecado capital.
Eu li que "os sete pecados capitais" não é uma idéia originalmente bíblica e veio da cabeça de uma cara chamado Gregório, o Grande, no século IV. A gula é uma coisa complicada. Todo ser humano ser um pouco guloso. Menos os que passam fome, como aqueles da tribo da vida passada. As anoréxas também não tem gula. Tem algo inverso a isso. Coisa feia não querer comer.
Antigamente, naquela época onde os escultores famosos esculpiam mulheres com os quilinhos a mais, que não eram a mais, era bonito ser gordinho, e comer e comer. O título que recebe essa época nos livros de história que a gente estuda na escola é Renascimento. Sempre tem uma balofa em pedra. Quando forem dar títulos em livros de história para nossa época vão colocar a foto de alguma modelo mostrengo dessas, Olivias-Palito da contemporaneidade.
Cada sociedade tem seus modelos de beleza. E cada uma, uma idéia diferente da comida. A nossa é estranha. Quem tem dinheiro, não quer comer. Quem não tem dinheiro, faz tudo por um prato de comida. E sempre existiu guerra por comida.

E eu ainda não sei qual o limite de fome e gula.
Fiquei sabendo que São Francisco de Assis usava cinzas para temperar a comida dele, para eliminar o sabor. Eu hein, que homem, ou santo, sem juízo.

Mas tem que saber dosar, parece. Vê ai, tem até mãe perdendo a guarda do filho porque entope o menino de besteira. Tem que ver o lado da saúde, dizem.

Então, enquanto não descubro a causa da minha fome sem limite, aceito os comentários do tipo: “já ta com fome??!!”, e vivo feliz saboreando o sabor saboroso das coisas que como. E tomando chá de boldo depois.

sexta-feira, março 09, 2007

As mulheres do Carlos.

Minha família é matriarcal.
Sem ofensas pessoais, os homens foram apenas parte metade da reprodução da espécie.
Eles foram coadjuvantes nas histórias das nossas vidas, desde minha trisavó.
Sim, conheci minha trisavó por parte de mãe.
Eu tinha 6 anos e ela tinha muitos gatos. Quando ela morreu eu tinha 8.
Quase não andava mais e a casa era escura, mas lembro dos olhos dela cobertos pela camada branca da idade.
Ela tinha um companheiro, mas não era meu trisavô. Esse morreu eu nem sei quando, nem o nome dele eu nunca soube.
Assim parece ser a saga dos homens de minha família. Morrem antes.
São em menos quantidade.
Já a história da minha bisavó, Arlinda, sei mais ou menos. Mas não conheci meu bisavô.
Minha bisavó teve mais de 15 filhos. Criou todos a base do cipó e com muita dificuldade. Trabalhando na roça, sol a sol e lavando roupa no rio.
Sei com quase certeza que 4 desse tanto de filho foram, ou são, homens. São, não. É. Acho que só um é vivo. Tio Dema.
O resto, tudo mulher. Tantos nomes que eu nem sei. Tia Nalva, tia Judith, tia Ceci, tia Rai, tia Lourdes, tia Maria, tia mãe da Glícia, que esqueci o nome... Tudo viva.
E, claro, minha avó, Valdete.
Dessa eu sei história paa postar nesse blog o ano todo.
Alegria é sentar na cabiceira da cama da avó e se envolver na prosa nostálgica sobre aquele "tempo que era muito diferente".
Minha avó casou muito moça com meu avó, João Fernandes.
Eles dois tiveram 7 filhos. Ivane, Ivanildo, Ivaneide, Ivanete, Ivanilson, Ivanilze e Ivete.
A maioria, mulher.
E não foi muito diferente a criação da minha avó para a criação de meus tios
"Sofrida, minha filha".
A metade "dos meninos" estudavam pela manhã e a outra a tarde, para revesar os sapatos.
Estudavam em um turno e trabalhavam na roça no outro.
Tinham uma só bicicleta para os 7 e faziam guerra com os restos impróprios para comer da carne escassa que minha avó cozinhava com muito esmero. Era a "Guerra de Pelanca".
Mas aproveitaram a infância. Com a rigidez do Seu João Fernandes e o bondade da Dona Valdete. Que as vezes também distribuia palmadas nos filhos com as penas negras cinzentas.
Minha bisavó e meu avô morreram em 2003.
Minha mãe, cansada da vida de sempre sem futuro do interiorzão da Bahia e das opressões do meu avô, no ínicio dos anos 80 arrumou a mala e foi pra São Paulo.
Herdou a coragem e a garra de minha trisavó, bisavó e avó.
Entre a casa de um e de outro. Entre os empregos e humilhações por ser negra, pobre e baiana.
Entre infinitos almoços com apenas ovos, ela superou tudo com muito charme.
Até que um dia conheceu um palmeirense branquelo com cara de moleque, muito bonito.
Eduardo, o nome dele. Eles casaram e tiveram uma filha.
Mas se separam um ano depois e ela criou a filha quase sozinha com a irmã Nilze e a avó Valdete, todo mundo já tinha ido pra São Paulo, todo mundo trabalhando.
Depois de oito anos e já estabilizada, ela tem outra filha. Paula.
Quem cuidava de Paulinha era a filha mais velha, que aprendeu cedo a se virar sozinha e herdou a auto-suficiência feminina das outras gerações.
Mas Paulinha tinha uma doença respiratória e não tinha um pai presente.
E o médico deu um ano, no máximo, de vida para Paulinha.
Ivane largou a vida estabilizada e, depois de 13 anos na cidade grande voltou para Bahia, para uma vida mais saudável.
Hoje, Ivane, Valdete e Paulinha moram juntas a poucos quilometros da filha mais velha de Ivane.
Filha mais velha que morre de saudade e de orgulho de carregar o mesmo sangue de mulheres como essas e que espera estar traçando, com a mesma dignidade, um caminho marcado também pela coragem e pelo amor.

Michele Carlos.
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Feliz Semana da Mulher para as mulheres de minha família.

22:21

A "sereia menina" branca dos cabelos castanhos avermelhados
boiando no rio
Pálida, com o dedal de prata preso em um dos dedos de tantos outros enrugados
Nem as págimas finais do livro.
Nem o pacote de biscoito de chocolate com seis biscoitos e meio
Nem a tristeza de estar sozinha em casa com quatro quartos vazios que nunca deveriam ficar sem o som alto das risadas coloridas
Nem a voz de Lenine
Nem Fargo e a atrativa frase: "Uma comédia de erros"
Nem o bolo de abacaxi de saquinho assando no forno
Nem as costas doendo da péssima dormida da noite anterior no sofá verde-cana
Só a ressaca das palavras lidas
Só sono.
E um bolo no forno.

quarta-feira, março 07, 2007

De volta para o futuro

Todo mundo já parou pra imaginar nas atitudes e decisões que tomou no passado e como seria no presente se tivesse tomado aquele outro rumo.

Esse foi o “tema” do meu inacabável sonho, que somente era interrompido pelas tremedeiras estranhas conseqüente dos sustos pelos acontecimentos virtuais e pela voz da minha amiga Larissa: “você ta bem?”.

Não sei o que aconteceu no presente do sonho, que eu queria voltar no passado e consertar alguns erros para evitar o indesejável. No estilo fiel Corra Lola Corra, fui retrocedendo minha vida aos poucos e foi passando um filme dos melhores e piores momentos da minha vida. Monografia, formatura, relacionamentos quebrados, lágrimas, traições, brigas, prazeres, despedidas, conquistas, demissões, admissões e um mundo de sentimentos estranhos, mas reais preencheram a noite sem fim.

Os acontecimentos ora eram de verdade, ora eram viagens surreais inimagináveis com mistura de personagens de cada fase da minha vida.
A agonia era que a cada momento que eu voltava eu percebia que teria que voltar mais um pouco. Que tudo na minha vida decorria de uma origem muito mais longínqua. E tentava fazer as coisas de modo diferente, mas percebia que de um jeito ou de outro, o final seria o mesmo. Como aquela história de que o destino ninguém engana. Nem sei como terminou, se terminou, na verdade nem lembro de muita coisa. O que lembro bem era do alívio de não ter que fazer outra monografia, porque era só pegar a do futuro, que já tava pronto.
Acordei com: “Mi, você ta tremendo a noite toda!”

Acordei com aquela sensação de que cada passo dado na vida é extraordinariamente responsável pelos próximos passos. Nada de novo. Mas acordar com essa impressão foi novo pra mim. E agora fico o dia inteiro achando que assisti a um filme da minha própria vida. Um filme como o Violação de Privacidade, com uma edição estilo Efeito Borboleta, narrativa 21 gramas, suspense e mistério a la Donnie Darko, com a fidelidade de Cidade Baixa, embalado pela ressaca da Casa do Lago, que vi ontem a noite.

Preciso de duas coisas: parar de ver filmes todos os dias ou parar de me prender ao passado.

terça-feira, março 06, 2007

Match Point para a bala perdida

A final do vôlei masculino dos Jogos Panamericanos vai ser no dia 28 de Julho.
Se eu não tivesse outras prioridades financeiras, dava até pra economizar os 120 reais do ingresso, uns 300 das passagens de ônibus e uns 100 reais de custos outros. Isso contando com o Brasil na final.

Durante alguns minutos fiquei pensando em matar essa minha vontade de a muito, muito tempo.


Mas, lembrei, o Pan é no Rio. E desisti.
Não dá gosto ir numa cidade que a cada dia morrem crianças vítimas de bala perdida.
As outras viagens que fiz pra lá foram traquilas. E a violência não tem endereço. Pode ser aqui, lá.
Mas perdi a vontade.
Alguém pode explicar?
Alguém pode explicar a crueldade de expor a vida de um ser humano inocente à morte?

sexta-feira, março 02, 2007

Quase um segundo

As costas da memória abrigam um mundo de movimentos desfocados.
Desfocagem passa-baixa.
Que dói nos olhos.
Que só nos deixa lembrar os contornos das histórias sombrias.
Empanadas pela dor.
Pela dor dos caminhos escolhidos.
Recordações retroativas.
Tsunamis no espírito.
Deslizamentos de barrancos do temporal de verão.
Máxima sentença das seleções feitas na vida.
Que deixam rastros amargurados.
Feridas incicatrizáveis
Com pus espumante
Tapado por gazes já amarelos vermelhos de sangue
Um espelho de promessas quebrado com cacos no chão
Onde os pés pisam para seguir em frente
Um esgoto deixando as espumas do mar cinzentas
Cinzento como o céu da mente que carrega toda culpa
Por um raio de sol
Por um esboço de sorriso
Pela corrida saltitante por um abraço
Pelo vento raro e úmido balançando os cabelos
Pelo sabor agridoce
Pelo sono tranqüilo
Por rugas de experiências menos dolorosas
Por gritos arremessados na estrada vazia
Pela voz macia aos ouvidos no telefone
Pelo mergulho na piscina sem cloro
Pelos 2 pares de passos compassados na areia
Pelos sustenidos, pelas pestanas
Pelo júbilo de um beijo a noite e pela manhã
Em busca da felicidade por quase um segundo.