segunda-feira, janeiro 22, 2007

As horas

Você já deitou no chão de seu quintal ou varanda numa tarde de domingo e ficou olhando o céu por alguns minutos? O céu de domingo é diferente. É acompanhado por um silêncio estranho. Os segundos não são os mesmos segundos dos outros dias da semana. Ontem estava assim. De um lado do céu um sol radiante, um radiante contido, tímido esperando pelas nuvens gris que estavam do lado oposto do céu. Os dois lados que minhas vistas conseguiam escoltar. E do outro lado, as nuvens gris. Ou melhor, uma única nuvem a ponto de entornar. E era única. Como um bloco de gelo, um corpo, como cada um de nós. Nos segundos intermináveis, o vento e toda sua vagareza, naquela preguiça típica dominical, aos poucos mutilava a nuvem em porções. Três porções de nuvem que o vento preguiçoso fez. E embaixo delas, como num passeio de domingo, os pássaros passavam de lá para cá. Se eram urubus, não sei. Mas pensei que eram para poder imaginar como eram de verdade. Como quando se imagina um personagem de livro através da discrição do autor. E se eram somente dois, não sei. Via o que minhas vistas conseguiam escoltar.
O que um pássaro faz o dia inteiro indo de lá pra cá no sol radiante e tímido, embalados pelo vento preguiçoso e embaixo de nuvens mutiladas? Vivem talvez. Esperam e apreciam a hora passando. Como eu fazia naquele momento. Curtiam o mistério do tempo. Da nuvem que não mais existia como um corpo consolidado. Do vento que já era outro. Que já era outro. E que já é outro. Onde está agora aquele vento que mutilou as nuvens? Somente o sol radiante é o mesmo, mais velho, mas é o mesmo. Nos segundos intermináveis, de segundo em segundo, tudo envelhecia, e a vida passava. O céu de domingo e sua maresia, no silêncio estranho do dia que só era quebrado por risadas distantes de crianças que brincavam na casa ao lado e assim faziam o tempo passar. E se calavam e riam novamente, como a nuvem que era uma e depois eram três e agora não existem mais.
Vamos para o céu quando morremos? Levantei e decidi não esperar pelo meu vento preguiçoso. Decidi viver.

4 comentários:

Halff disse...

quero mijar em tua nuvem e pular em cima, ela vai ficar levemente amarela, entre cinza e amarela...
Vou pintar seu cabelo com ureia! hahahahaha

Anônimo disse...

eu sou preguiçoso! :P

Mi do Carmo disse...

hahahhahahahhahaha

Shirley de Queiroz disse...

Nenhum vento me dividiu em três até hj...