sexta-feira, agosto 31, 2007

A volta dos que foram

A frase que vou soltar agora é de tão clichê, feia. Mas que, como quase todos os chavões, é uma verdade universal. “Os que foram não voltam mais”. Ah sim, existem os que defendem a vida após morte e similares, porém não vou entrar nas crendices religiosas que sempre são tão polêmicas e variadas e vou partir mesmo do pressuposto de que quem morre, morre mesmo e já era, não volta nunca mais. A grande questão que inunda minha mente essa manhã de sexta-feira é realmente esse nunca frase anterior.

Quando a morte leva O Alguém, ele deixa de existir nesse nosso mundo, nunca mais o veremos andando pelas ruas, nunca mais conversaremos com ele (quer dizer, os esquizofrênicos podem ter esse privilegio), mas durante algumas gerações carregamos o morto querido em nossas lembranças, em nossas histórias nesse universo abstrato da nossa memória. Somente durante algumas gerações. Depois somos esquecidos para sempre. Exceto aqueles que ganharam espaço entre as páginas da História e estão imortalizados pelos livros, pelos discos, pelas invenções e etc...

Então o nunca pode demorar a vir um pouco porque, volta e meia, em alguma data do ano, em algum momento do dia, com um gosto, um cheiro, uma música, uma palavra você vai se lembrar daquela pessoa que morreu. No meu caso, dessa madrugada foi com um sonho. Um sonho com meu avô João, pai de minha mãe. Seu João Fernandes teve um ataque cardíaco fulminante há uns cinco, quatro anos, já estava doente. Eu não o via, quando ele morreu, há quase 10 anos. Essa noite ele apareceu no meu sonho, saudável, o negro bonito que ele era, com todos os pormenores, o rosto, a jaqueta o jeito de olhar. Ele tinha voltado para me ver e falou: “Você se tornou a mulher bonita que eu sempre disse que você ia ser” e me abraçou. E meu avô realmente sempre dizia isso, até porque na época ele não tinha muito pra quem falar, uma vez que eu era a única neta. Acordei assustada, mas com uma sensação boa de saudade e depois fiquei pensando que eu sou a única geração de netos de Seu João que tem condições de lembrar com mais detalhes. Depois que eu “passar” as lembranças diminuirão, meus filhos só saberão da existência do bisavô e os filhos dos meus filhos talvez nem ouvirão sobre.

Nenhuma descoberta fenomenal, nenhuma novidade. Somente devaneios decorrentes de um sonho muito bom em que encontrei meu avô João.

2 comentários:

Shirley de Queiroz disse...

Eu resolvi dar um jeito de as próximas gerações da minha família terem uma idéia da história do meu vô, e da minha vozinha. Não suporto a idéia de esquecê-la. Tô escrevendo a história do casamento deles, como um conto. Outro dia ele contou pra mim, e pensei em fazer um post pro blog. Mas resolvi que vou fazer em pequenos capítulos, e depois ler pra Duda, Helô e meus futuros filhos... Adoraria ler a história do seu vô...

Caique disse...

interessante. Eu nunca tive sonhos assim, com quem morreu. Também, nunca perdi alguem muito próximo. O caso é que no final todos se esquecem de quem morreu e a vida continua, as festas voltam. Tipo, as vezes penso se eu morrer de repente, um acidente e tal. Imagino o Centro de Cultura lotado (sim, nada de capelinha São Vicente, please). Vc, Michele, se acabando de chorar e tal...enfim meus amigos todos. Imagino que lá pelas 3 ou 4 da manha...alguem vai sair com uma piadinha e cmeçam a rir baixinho. Na semana seguinte o povo tá no Donantonha, rindo e tal. Minha namorada com um tempo (espero q ao menos 1 ano) tá com outro e a vida continua. Como disse Indyra: só quem perde a vida é quem morre.