segunda-feira, setembro 10, 2007

Saneamento Básico, o filme - longe da fossa.



Existem duas grandes vantagens em se ver um filme sem saber bulufas do que se trata a história: você pode se surpreender muito e se o filme for demasiado ruim você não desperdiçou seu precioso tempo com expectativas positivas.


Assim foi com “Saneamento Básico, o filme”. Quando cheguei no cinema a única coisa que eu sabia, surpreendentemente, era só isso,o nome e que era um filme nacional. Foi no momento em que vi o cartaz e minhas esperanças foram diminuindo de acordo em que meu pré-conceito ia aumentando: atores globais, dois em novela das oito, mesmo elenco de sempre (apesar de ser um elenco respeitável, eu criei um certo asco depois da decepcionante experiência com Ó pai ó (comparações serão, no decorrer deste texto, inevitáveis)). Depois de acomodada na poltrona vejo “Globo Filmes apresenta” e por bem o filme começou logo antes que eu começasse a colocar na cabeça que o que eu iria assistir ali seria mais um capítulo de um novela. Realmente não precisou de muito tempo pra eu ver que quase me engano. Logo nos primeiros minutos percebi a ausência das caras e bocas, dos esteriótipos, dos exageros, dos ângulos de televisão e relaxei aliviada. No entanto, relaxar em um filme como Saneamento Básico não é um verbo muito apropriado pois foram poucos os minutos em que eu consegui parar de chorar...de rir.


Voltando um pouco no que deveria estar no início deste texto, Saneamento Básico conta a história de uma comunidade de um município muito pequeno do interior do Rio Grande do Sul que luta para conseguir com que a Prefeitura atenda, enfim, os pedidos já fatigados para uma construção de uma fossa. Dois representantes (Marina e Joaquim, interpretados por Fernanda Torres e Wagner Moura) dos moradores da pequena Linha Cristal, que já possuem um projeto orçado para saneamento básico da vila, vão até a sub-prefeitura e deparam com o fato chocante ( para eles, obviamente): a prefeitura não dispõe de verba para as obras de saneamento mas dispõe de R$ 10 mil para a realização de um vídeo de ficção que se não for utilizado será devolvido para o Governo Federal. Como o dinheiro não pode ser devolvido de jeito nenhum.... Marina e Joaquim resolvem assumir o compromisso de realizar o filme sobre a própria obra e com isso pegar o dinheiro para construir a fossa. Entretanto, eles só podem retirar o dinheiro depois que apresentarem um roteiro e um projeto de vídeo de dez minutos. Loucura mesmo é quando eles descobrem o que é “de verdade” um filme de ficção e colocam um monstro para ser a estrela do curta. A história é essa, resumidamente, o que garante as boas risadas são os diálogos inteligentemente engraçados de uma simplicidade e inocência sem igual acompanhado das interpretações super naturais de todos os atores. Só por isso o filme já valia, pelo sentimento de satisfação de estar com a atenção presa em cada minuto, mas ainda tem a poesia do filme, a contextualizante trilha sonora, a crítica social que não quebra o bom-humor e dá conta do recado.


Agora vem minha inevitável comparação com Ó pai ó. Eu sou consciente de que cada forma de filme compreende uma intenção diferente, mas eu nunca, nunca sou fã de apelos e defendendo a opinião de que para ser uma boa comédia isso não precisa quase que necessariamente acontecer como foi com Ó pai ó, e a prova disso é Saneamento Básico. Em Ó pai ó O o baiano em é tão figurinha, a Bahia é tão “pintada”, a comédia é tão forçada que eu achei até morava em outro Estado que não aquele que estava vendo no cinema. E é exatamente isso, não é como é (como pretendeu ser, ao meu ver), mas como é visto de fora, o que oferece uma carga de artificialismo que só poderia piorar com o final que teve, uma tragédia sem eira nem beira para provar sei lá o que do carnaval e de toda aquela miséria e alegria que foi cultuada durante todo o filme. Um filme que não me serviu nem de diversão. (Veja meu comentário sobre Ó pai ó, que acabei de descobrir que comecei da mesma forma que esse, falando de expectativas: http://midocarmo.blogspot.com/2007_04_01_archive.html).

Foi quando fiquei sabendo que Jorge Furtado, o diretor de Saneamento Básico, é de lá do Sul e tirei um conclusão, com a ajuda da minha fonte reveladora, de que só mesmo sendo da terra para captar sutilmente cada detalhe de seu povo, de sua paisagem sem maiores apelos. Um exemplo de filme assim, no quesito comédia, aqui no nordeste é Narradores de Javé.

É uma pena que se você já leu esse texto (ou qualquer outro comentário) e ainda vai assistir ao filme não tenha mais aquela expectativa virgem de poder se surpreender, mas ainda assim garanto que você não vai se arrepender de ir ao cinema assistir Saneamento Básico. Há muito tempo não me divertia tanto com um filme brasileiro, é realmente muito legal.

Nenhum comentário: