segunda-feira, novembro 05, 2007

Tropa de Elite - Bê a Bá da chapa quente.

E nós já estávamos nos sentindo uns Ets. Conquista é uma cidade sem valor para a empresa que administra o cinema daqui. Demora a chegar as películas e muitas vêm dubladas. Óbvio que raio cai sim senhor na cabeça de azarado mais de uma vez, tanto que não foi diferente com Tropa de Elite. Pelo menos o filme é falado no legítimo brasileirês. Eu estava vendo a hora de passar na TV aberta e não estrear por aqui. Mas enfim, ontem fomos nós (nós, resistentes,que amamos tanto a boa qualidade de som e imagem e fomos mais fortes que a curiosidade) assistir à história mais badalada (ou “baladada”) do ano.
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Embora cada crítica e comentário possam compartilhar e divergir opiniões com outras críticas e comentários e ainda assim agregar algo de novo, acho que não irei escrever algo que já não tenha sido escrito sobre o filme de José Padilha.

Talvez eu não tenha saído chocada do cinema pelos spoilers, pela expectativa, pelo furdúncio, pela nuvem de discussões sociais antecipadas. O que aconteceu foi a ratificação de um meu antigo sentimento de que a solução para os problemas de corrupção, o desdém das autoridades e falta de estima pela vida do ser humano está a cada dia mais distante. O documentário Ônibus 174 e os livros de Caco Barcellos, Rota 66 e Abusado, já feriram, como diria o Baiano de TE, minha “consciência social” (com sentido um pouco distinto ao do traficante). E feriram muito! Inundei as lágrimas do meu Rota 66 e demorei a me recuperar de Ônibus 164 pelo retrato social aprofundado que ambos me apresentaram.

Mas Tropa de Elite é ficção e muito da bem feita. Cenas de tiroteio, de tortura (aliás, felizes os atores torturados, quase achei que era verdade), som de primeira que só poderia mesmo ser “saboreado” numa sala de cinema, diálogos autênticos e momentos de humor (humor negro, na maioria das vezes) acertados e sem excessos. Alguns atores deixaram a desejar, mas quando se tem Wagner Moura exibindo uma interpretação hipnótica, pode-se dar menos atenção aos outros (sem tirar os créditos de ninguém!).

É um filme que foi feito para ser levado a sério. O brasileiro se encontra em uma situação de paranóia, de medo constante e de desilusão total, principalmente aqueles que vivem dos dois lados da Cidade Maravilhosa. Essa condição de stress coletivo e de apreensão é manifestada na construção do personagem do Capitão Nascimento que apresenta um cansaço e uma frustração bastante familiar. Todas os insultos à nossa moral descendentes da corrupção das policias, da hipocrisia enraizada na sociedade (não uso “burguesia”, todas as classes estão envolvidas de alguma forma), da punição negligenciada pela Justiça cansam até mesmo aqueles que não movem uma palha para que a mudança comece a acontecer (que é o caso da maioria de nós). Mas o que fazer com a falta de educação, de cultura, de saúde, de oportunidades, não é mesmo? Estamos perdidos e Tropa de Elite cumpre o papel de mostrar isso. O triste é que os discursos são esquecidos com a mesma velocidade em que foram reproduzidas as cópias piratas do filme.

Não achei Tropa de Elite “fascista”, como dizem por aí. Tende, como toda a história, para um lado e é o lado do personagem principal, que narra o filme.E concordo com Pablo Villaça quando ele diz que “acusar o diretor de Ônibus 174, um dos documentários mais poderosos, complexos e reveladores já produzidos sobre nosso país, de “fascista” é, no mínimo, um sinal de preguiça mental”. E muito menos vejo o Capitão Nascimento como um herói, afinal ele também tortura e conhece o sistema. Ele é mais uma vítima das circunstâncias reais desse mundo sem deveres, sem direito, sem ordem e sem civilidade ou é cúmplice das barbaridades de mão dupla, que sobem e descem o morro através de policiais a quem tentamos confiar a nossa segurança e de homens traficantes bandidos que nasceram em um país sem oportunidades e não temem por nada nesse mundo por estarem tão calejados de falta de atenção.

Tropa de Elite é um infinito gerador de debates. E me arrepio em pensar que apesar disso é uma obra de ficção que não engloba nem a metade dos enigmas a serem decifrados e dos problemas a serem enfrentados para enfim termos um país mais vivível. Será possível? Talvez sim, quando pararmos de falar e escrever e começarmos a agir.

2 comentários:

Shirley de Queiroz disse...

Eu penso:
1- A solução não está distante: ela não existe.
2- Capitão Nascimento não é o herói, mas nos identificamos com ele justamente porque ele tá cansado de tudo isso. E porque não é corrupto.
3- É mais fácil transformar um homem inteligente num bruto, do que transformar um bruto num homem inteligente (Matias e Neto).
4- No Brasil só se pode fazer filme mostrando a visão do bandido? Do contrário o diretor é fascista?
5- Tô cansada.

Alberto Pereira Jr. disse...

tb vi o filme no cinema.. não valeria a pena ver a obra em um dvd com som estourado e em uma tela senao de cinema..
e concordo o filme é entretenimento de primeira.. levou a pensar.. mas não deve ser o alvo das discussões.. deve-se sim discutir a violência, a barbarie e a injustiça que existe no Brasil, e que na ficção por mais forte pareça, não representa nem 10% da realidade..