quarta-feira, novembro 28, 2007

Se hoje canto essa canção....

Sou fã do pop rock feito no Brasil nos anos 80. E sempre que o assunto está em pauta numa conversa entre amigos e alguém faz uma critica negativa eu parto para defensiva. Porque os anos 80 foram lindos, os jovens eram lindos, tinham sede de originalidade (mesmo com influências poderosas dos ingleses), queriam fazer parte de algo, fazer a diferença. A música de jovens dos anos 80 surgiu de um grupo que começa a conhecer a liberdade de expressão e passa ainda por cima de enfrentamentos políticos pra isso. Talvez quem vivesse na época não tinha noção da dimensão, nós nunca damos conta do presente.

Hoje paro e penso sempre: nada do que tenha surgido no cenário musical brasileiro nos últimos cinco, seis anos me chama a atenção, me atrai. Vivo revezando minha set list com miscelâneas do tempo do Chacrinha: Barão, Ultraje, Paralamas, Biquíni. Capital, Lobão, Ira!, Engenheiros, quando estou nostálgica demais apelo para o que não saía do meu walkman, a Legião. Ou alguns sons mais recentes, digamos assim, mas ainda assim surgidos no inicio dos 90’s como Pato Fu, Nação Zumbi, O Rappa, Marisa Monte, Skank, Cássia Elle, depois Los Hermanos...E até pra falar mal falo dos já quarentões Leoni, do Kid Abelha, do RPM...

Não tem banda de pop rock, ou rock ou qualquer coisa parecida. Não que eu espere movimentos rockers hoje em dia, é até quimérico pensar que depois de tantas fusões, tantas alternativas, tantas ligações e absorções quase químicas irreversíveis, um ritmo, um som seja ainda cristalino. Mas não compreendo a ausência do “ei, tenho algo a dizer”.

Eu não gosto de falar de capitalismo e nem da palavra. Mas a indústria da música com o único e certeiro objetivo de ser mais indústria do que música (o que se trata de uma obviedade) causa essa falência criativa. O esquema de jabás (que sempre existiu, mas encontrou o ápice no início dos anos 90 após a liberação de concessões de rádios FMs “a torto e direito” por Sarney e ACM), a MTV e as disformes gravadoras sitiam a autonomia dos artistas.

O que explica a volta das bandas dos 80’s com “ao vivos”, reciclagens, acústicos através da própria MTV que não consegue sustentar sua marca somente com as modinhas, precisa de conceitos, de conteúdo.

Eu que estou ficando velha, existe uma crise (que talvez nem seja considerada “crise”) na identidade do jovem no Brasil, fazer e ouvir música não é mais como antigamente? Ou estou atrofiada musicalmente? Ou os quatro juntos?

Entendo que as possibilidades musicais num mundo em que as linhas de identidade cultural são tênues, se não já inexistentes, em que tudo é tão mundial, porém sinto falta do algo à brasileira com significados sociais, ambientais, políticos, de humor (até para ser “escrachado” é preciso percepção). As idéias e manifestações surgem do contexto em que seus agitadores estão inseridos. Foi assim nos anos 80, com a transição infinita, complicada e muito desejada da Ditadura para Democracia, a abertura internacional, a in/ estável geladeira de preços de Sarney, situações que faziam brotar do ardor juvenil palavras e sons.

História à parte, o fato é que antes o jovem não tinha espaço e lutou para ser ouvido. Hoje, ele é tem o espaço, liberdade de sobra e não sabe o que quer ou acha que não tem o que dizer num mundo em que questões diversas estão fervilhando. Ou não quer dizer nada mesmo porque aparentemente já tem tudo. Certamente o jovem não enxerga algo que pode ser mais importante: um motivo para agitar que não esteja absorto no seu próprio umbigo.

5 comentários:

descolonizado disse...

pop dos anos 80 é legal mesmo.
putz sou doido por causa da banda que marisa orth cantava - banda luni. eles pararam de cantar [há muito tempo] mas acho as músicas um primor, meu sonho era ter o cd. mp3 já ajudava. hi hi hi

Shirley de Queiroz disse...

Minha esperança é de que, como o povo no anos 80 não tinha noção do presente deles, a gente também não tenha do nosso. E no futuro possa enxergar alguma coisa boa que surgiu nos anos 2000.
Mas penso que as pessoas mais velhas daquela época achavam tudo um lixo, que os anos 60 e 70 é que tinham sido bons. Se pensarmos assim, nós somos os mais velhos agora.
Mas arrocha, funk, Emos e cia, realmente é dureza de aguentar...

Anônimo disse...

Shirley, numa conversa com Mi eu disse a mesma coisa. O olhar nosso sobre os anos 80 é de quem tem a distancia temporal como privilegio.

De qualquer forma, talvez a gente fique saudosista dos anos 2000 pelo fato de que a uns 20 anos, tudo estará muito pior que hoje...

jacques disse...

cara, eu tinha feito um comentário enoooooorme, mas o blog não me deixou postar. deixo o recadinho de que passei por aqui então.

:P

Alberto Pereira Jr. disse...

concordo com tudo o que você escreveu..

mas coloco um adendo.. acho que nem sempre a música, ou qualquer outra manifestação artística tem a obrigação de ser "cabeça"...

se for melhor, senão, mas esteticamente causar sensações já está valendo a pena..