quinta-feira, julho 17, 2008

Família Soprano.


A série merece um post maior, ao mesmo tempo em que nenhuma palavra é capaz de definir o que muitos dizem ser a melhor série de todos os tempos. E com razão. Família Soprano, sem sombra de dúvidas, foi a coisa mais inteligente e envolvente que eu já vi na minha vida.

Não me lembro de ter pensando diferente em algum dos 86 episódios das 6 temporadas. Mais de 8 meses assistindo a história de Tony Soprano e sua família da máfia italiana em New Jersey e os dramas de sua família dentro de casa. A relação entre os dois mundos, a linha tênue que os separa e a difícil e catastrófica tarefa de ser dois em um. O primeiro mafioso a freqüentar terapia e enfrentar os monstros que o acompanha desde sempre.

Personagens construídos com honestidade, cenas cheias de referências escondidas e simbolismos (muitos que devem ter passado despercebidos), emocionante e crua. Além de “bem amarrado”, quase nada se perde em Família Soprano e nada parece ser de graça, não é só entretenimento.

É uma série, claro, pra quem tem humor fino (me desculpem a vaidade) e negro, pois a graça muitas vezes está num olhar, num gesto e em cenas de carnificina. Tudo isso, porque se pega amor incondicional ou ódio mortal dos personagens, que se tornam íntimos ou completamente estranhos de uma hora pra outra. Não tem como assistir “de fora”, os sentimentos são reais.



Tony, com o charuto e a piscina - símbolos importantes.


Uma vez um amigo me perguntou o porquê de tudo ser resolvido com um assassinato ou briga (o que não é bem assim, essa visão simplória). Família Soprano não pretende mostrar um mundo utópico, cheio de idealismos. É um mundo onde o ser humano pode ser afável e desprezível ao mesmo tempo, onde não existem democracias e nem fantasias. Esse nosso mundo, o meu, o seu, só que cada um em sua realidade. O único devaneio permitido é aquele inevitável depois de cada episódio: a série é construída para pensar, pensar em nós, nos nossos instintos, impulsos, no animal que existe dentro de cada um. Sem lições de moral. A margem deixada para interpretações é o que mais fascina, é a beleza de instigar o espectador a chegar a alguma conclusão diante dos elementos usados, da construção dos diálogos, das seqüências, dos movimentos de câmera. Algo tenso, de tirar meu sono, me fazer gargalhar sempre e chorar compulsivamente algumas vezes.

Família Soprano ainda faz críticas ao estilo de vida que levamos hoje, sem parecer crítica, sem ser chata e apelativa. Mas o enfoque é mesmo naquilo que somos, em termos psicológicos, humanos, como isso influi no social e vice-versa. Uma via de mão dupla, um problema que não se sabe de onde surgiu e nem onde vai parar. Um lugar onde a justiça é feita com as próprias mãos, no olho por olho e também onde as injustiças são muito mais comuns.

Senti amor e ódio verdadeiro por todos os personagens muitas vezes, por isso a experiência de Família Soprano é inesquecível. E o que é melhor, sem um final clichê e conveniente. Algo para se entregar, se optar por assistir.

Obrigada à Hélio, por me incentivar a ver coisas legais, sempre.

Um comentário:

Hélio Flores disse...

Legal mesmo o texto. Eu sempre quis escrever sobre a série, mas não consigo. É tudo isso que voce disse e mais.

E eu sempre vou estar aqui incentivando a ver coisas legais (e vice-versa). Mesmo que a primeira vista voce nao ache tao legal assim.

Bjos!