quinta-feira, junho 21, 2007

Até soarem as trombetas.

A menina quando criança fez ballet. Todas as meninas queriam ser bailarinas naquela idade, mas nem todas tinham talento para tal. Em pouco tempo, a menina teve que sair do ballet, não se adaptou às sapatilhas e à delicadeza da dança. Isso porque ela era moleca demais. Gostava de andar de bicicleta no estacionamento do metrô e colecionava marcas e cicatrizes nas pernas e nos cotovelos. Nesses momentos a menina sonhava em ser esportista, de esportes radicais. Mas como ser radical quando se mora em uma cidade grande e se passa a infância trancada em um apartamento? Não dá, as horas da bicicleta eram escassas e cronometradas rigorosamente pela a avó.

Então, a opção era assistir televisão. Xuxa, Mara Maravilha e Angélica. A menina queria ser uma delas. Controle remoto como microfone e cartas de um baralho velho como as cartas dos telespectadores. Baralho para o ar. “E o vencedor é????”
Porém, a menina foi crescendo e em algum instante da sua pré-adolescência ela se apaixonou pela língua inglesa e decidiu, por conta própria, entrar em um curso de inglês para ser aeromoça, ou como dizia um tio que era piloto da aeronáutica, “comissária de bordo que é mais bonito”. Aí, pela primeira vez, ela teve apoio de todo mundo e passava horas olhando mapas, sonhando com as cidades que conheceria.

Por anos, estava certa do que queria ser quando crescer. Até que assistiu ao filme Apollo 13 e tudo mudou. O céu dos aviões era muito pouco para ela. Ela queria o espaço, as estrelas. Iria ser astronauta e era tão emocionada com a descoberta que chorava com os filmes e os olhos brilhavam com qualquer notícia cósmica. Enchei o quarto de pôsteres da via-láctea, das constelações. E até o pai dela começou a colecionar fascículos de um jornal e montou uma enciclopédia com todos os conhecimentos básicos da astronomia. Só tinha um problema: a menina não tirava boas notas em Física e o sonho foi indo por água abaixo.

Até que ela começou a dar valor ao seu gosto pelo rock. A época era a ideal: adolescente, cheia de dúvidas, de questionamentos, a música parecia perfeita para o momento da vida dela. “Vou ter minha banda de rock”. Teve muitos amigos que tinham bandas, começou a ter aulas de bateria, de violão, só vestia preto e colava o all-star preto com silvertape. Não vingou, o negócio dela era só acompanhar os ensaios mesmo e fazer participações nos showzinhos de rock na banda do namoradinho só cantando “Everything Zen” e pulando do palco em “moshes” inesquecíveis. A banda nunca existiu, e ela não desistiu do rock, mas achou mais fácil aprender a tocar berimbau.

Foi quando começou a trabalhar: aulas de inglês, guia turístico, monitora de esporte e lazer de hotel, recepcionista de eventos, secretária... Uma coisa era certa: ela sabia e gostava de se comunicar. Mas já era a hora de decidir a profissão! No terceiro ano paralelo com cursinho pré-vestibular ficou em dúvida entre estudar economia, história, geografia, letras ou publicidade e propaganda.

Até que viu entra as opções: Jornalismo, numa única universidade pública do interior da Bahia. E ela queria ficar na Bahia mesmo.
As letras J-o-r-n-a-l-i-s-m-o brilharam para ela. Havia setas coloridas, trombetas, uma sinfonia completa e fogos de artifício. E ela não entendia porque tinha tantas dúvidas se a arte da informação te acompanhou pela vida inteira, bem sutilmente. Cresceu em meio a jornais que seu pai vendia, aos ensinamentos de sua mãe sobre a importância da comunicação, vidrava os olhos no Jornal Nacional e lia incessantemente matérias em revistas diversas. Ela nunca tinha percebido como ela crescera com o jornalismo. Todo mundo sabia disso. A menina gostava de expressar opiniões, de criticar, adorava discussões de cunho social e o que mais queria era fazer do mundo um lugar melhor.

Cinco anos depois ela se tornou uma jornalista e se apaixonou perdidamente pela arte do vídeo-documentário.
Agora quer ser professora. De Jornalismo, claro. Ou uma documentarista reconhecida? Talvez os dois. Quem sabe.

Um comentário:

Anônimo disse...

meu desejo é mais simples... quero ser rico!
torçamos por nós dois!
:)
ahaha
:****