sábado, abril 05, 2008

A letra R de todo lugar e de lugar nenhum.

Alguém que lê esse blog tem a noção do que é ter um complexo de personalidade? Uma coisa meio Jason Bourne, essa de não saber de onde pertenço. Como diriam os Titãs (todos eles juntos em uníssono) “sou de lugar nenhum, sou de lugar nenhum”.

Todo esse desassossego vem da letra R, essa Ridícula. Além da velocidade, do ritmo, da entonação e da distinção fonêmica de cada sotaque que esse Brasil nos apresenta a letra R é a vilã na vida de quem sai de uma região para outra. Quando sai de São Paulo e vim morar na Bahia era a escola em peso: “fala porta”. E eu, tímida que era (na verdade eu tinha idéias assassinas para cada um que me fizesse de idiota desse jeito, mas preferia esconder minha maldade atrás de um ser pré-adolescente palerma) falava “POrrrrrrTA”, igualzinha Sandy naquela música que marcou meu aniversário de 10 anos.

Aí, cada vez mais ridicularizado, massacrado e humilhado meu sotaque foi se escondendo e eu fui forçando o bainês para ser aceita pela comunidade infanto-juvenil da escola como um ser normal.
Quando meu pai me ligava de São Paulo e eu falava SORRRVETE com o R vindo da garganta e não da língua, ele falava: “já ta pegando o sotaque hein!” e com todo o preconceito dele “ai meu deus, minha filha já ta virando uma baianinha”.

“E agora? O que faço?”, a confusão na minha cabeça crescia mais rápido do que as constrangedoras pedrinhas nos meus seios. Ao invés de assumir meu sincretismo, ser uma paulistana- baiana e seja o que Deus quiser, fiz o que parecia ser mais fácil e que me deixa seqüelas até hoje: passei a “comer” o R. Então era “pota”, “sovete”, “pupurina” , “unifome” . As críticas continuaram do mesmo jeito (fala direito menina!), mas pelo menos eu não era mais daqui e nem de lá, era de lugar nenhum.

Hoje eu sou mais daqui do que de lá, assumi minha identidade, tomei um ultimato na minha vida e por supremacia sou muito mais baiana. Mas ainda não sei o que fazer com o R. Bem que dizem que os traumas de criança são carregados pra vida inteira. To “pedida”.

Um comentário:

Alberto Pereira Jr. disse...

gente as crianças podem ser umas diabas né?. principalmente na ´peoca do colégio.. hehehe.. aa eu como não tenho sotaque (cof cof.. ).. kkkk

querida seja vc com ou sem R.. mas seja autêntica

:)