quinta-feira, dezembro 14, 2006

Que tipo de brau é você?

Na pipoca do carnaval de Salvador só tem brau. Na praia do São Miguel em Ilhéus só tem brau. O povo de Feira de Santana é todo brau. Aquela Beira-Rio em Itabuna é brau demais. Se eu desço até o chão eu sou brau. O funk é brau. Cabelo encharcado de creme é brau. Brau também é bermuda floral com tênis esporte e boné da "Naike". Mulher que deixa a calça grudar entre os pés e o scarpan além de mal-vestida é brau, em minha opinião. Vomitar por cachaça é brau. Cds e dvds piratas: brau. Meus ex vizinhos da Faixa de Gaza (Pedrinhas): braus. "Pô véi", "Tá ligado", "Se ligue", "Rá-paaazz", "Não me chame não, viu?", " E ai, péda" ou "Você é minha pédinha": brau. Correr atrás de ônibus é braulice, além de necessidade, algumas vezes. Brauleza: carro de som rebaixado com vidro fume. Arrocha, o som, dança e pior, quem se habilita a ser adepto dessa desgraça: brau. Homem que pinta o cabelo de loiro e a barba também é brau e Foguinho. Brau é sentar no bar e pedir Sol, Kaiser, Primus porque é mais barato. Universitários que moram em República são obrigados: são braus por necessidade financeira. Camisa de botão com dragão estampado: brau. Ligar bêbado pros amigos de madrugada e falar: "te amo porra" é muito brau. A Miconquista está cada vez mais brau e as festas de camisa sempre foram. Aliás, são um exemplo de paidéia da brauleza. Vaias em sala de aula. daquelas que começa: "ê - ê - ê... êeeeeeeeeeeeeeeeee", biquini de cor fluourecente: brau.

Ser brau pode ser o máximo ou o "pó da rabiola". Muita gente não gosta do termo, acha preconceituoso. Ainda mais os mais ferrenhos na discussão do termo "brau" vir de "brown", aqui os "afrobrasileiros", como dizem. Na verdade, nossa colonização foi brauzérrima. E particularmente não tinha idéia de onde vinha o termo de forma dialética, mesmo fazendo uso freqüente da palavra.

Em uma de suas incansáveis viagens pelo orkut, Hélio Flores descobriu que existe um artigo sobre a cultura brau. "Etnografias do Brau: corpo, masculinidade e raça na reafricanização em Salvador" mostra como o termo avoca situações sisudas, exemplificadas de prima no resumo: "essa seria uma inflexão da masculinidade informada pelas tensões e de gênero em Salvador, assim como uma reapropriação localizada de temas culturais da diáspora africana. Braus foram (são) jovens negros da periferia que re-inventam visualidade/corporalidade negra a partir de releituras da cultura soul norte-americana e ao mesmo tempo são estigmatizados pela classe média como violentos, de mau gosto e hiper-sexualizados...�. Ou seja, preconceito racial mesmo, apoiado em estereótipos dos mais bizarros. Mas o termo se espalhou, impregnou no nosso dialeto baiano e já era.
Eu queria descobrir de onde veio o “paloso�. Aqui em Conquista quase ninguém conhece, mas no sul e em Salvador... Deve ser porque lá tem mais palosos, assim como tem braus.

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